No dia 8 de maio de 2025, em Mértola, foi oficialmente apresentada a Estratégia Quadro de Atuação Transfronteiriça para a Promoção Socioeconómica da Faixa do Rio Guadiana – Baixo Guadiana. Este importante instrumento de planeamento, desenvolvido através de um processo participativo no âmbito do projeto Interreg POCTEP OP5 BAJO GUADIANA, foi coordenado pela Junta da Andaluzia e pelas Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo e do Algarve, com o objetivo de impulsionar o desenvolvimento socioeconómico transfronteiriço nesta zona estratégica do rio Guadiana.

A estratégia, cofinanciada pela União Europeia através do Programa Interreg Espanha-Portugal (POCTEP) 2021-2027, insere-se no quadro da cooperação transfronteiriça da Eurorregião Alentejo-Algarve-Andaluzia (AAA) — um território que partilha uma fronteira natural, bem como características geográficas, económicas, sociais, históricas e culturais que favorecem a cooperação. A Eurorregião AAA tem como objetivos promover o conhecimento e a aproximação entre as suas populações, impulsionar iniciativas conjuntas, fomentar o diálogo e a cooperação entre entidades públicas e privadas, reforçar a competitividade internacional e promover um desenvolvimento sustentável numa zona com elevado potencial, mas também com desafios significativos.

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Esta estratégia constitui o ponto de partida para a 8.ª convocatória de projetos POCTEP, cujos principais aspetos (ainda provisórios) foram igualmente apresentados durante o evento.

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Em que consiste a Estratégia do Baixo Guadiana

A área de influência da Estratégia abrange 4.251 km², incluindo concelhos da província de Huelva (47,5%), o concelho de Mértola no Baixo Alentejo (30,4%), e os concelhos de Alcoutim, Castro Marim e Vila Real de Santo António no Algarve (22,0%). Esta zona apresenta uma dualidade marcada entre o litoral, que concentra grande parte da atividade económica e da população, e o interior rural, que enfrenta desafios como a despovoação e o envelhecimento demográfico.

A elaboração da Estratégia baseou-se num processo participativo realizado em março e abril de 2023, envolvendo diversos agentes representativos do território (sociais, económicos e ambientais), com o objetivo de recolher contributos e conhecimento local. Este processo conduziu à definição de seis Eixos Estratégicos, que estruturam o respetivo plano de ação.

Os seis Eixos Estratégicos da Estratégia do Baixo Guadiana são:

1. Navegabilidade do rio Guadiana

Visa revitalizar o rio como eixo dinamizador através da melhoria de infraestruturas e da ampliação do troço navegável, especialmente até Mértola. Está relacionado com o Desafio 15 (economia azul) e o Desafio 17 (infraestruturas associadas ao rio) da Estratégia da Eurorregião AAA.


2. Economia sustentável ligada ao rio

Foca-se em:

  • Reforçar a competitividade empresarial e o empreendedorismo,

  • Diversificar a oferta turística para além do sol e praia (incluindo turismo náutico, desportivo e de natureza),

  • Reforçar a fiscalização pesqueira e promover a aquicultura sustentável,

  • Valorizar a produção tradicional de sal,

  • Explorar o potencial mineiro da Faixa Piritosa Ibérica.

Contribui diretamente para os Desafios 1 (dimensão empresarial), 3 (recuperação económica) e 15 (economia azul) da AAA.


3. Conservação da biodiversidade e valorização do espaço rural

Dá prioridade à preservação de espaços protegidos, como a Rede Natura 2000, que cobre cerca de 40% do território do Baixo Guadiana. Inclui:

  • Ações de custódia do território,

  • Conservação de espécies e habitats vulneráveis (ex: peneireiro-das-torres),

  • Sensibilização ambiental,

  • Gestão sustentável dos recursos,

  • Apoio à produção agroalimentar local e proteção do património genético de espécies tradicionais, como a oliveira.

Relaciona-se com os Desafios 14 (biodiversidade) e 11 (alterações climáticas).


4. Gestão de riscos, alterações climáticas e desertificação

Aborda os impactos esperados das alterações climáticas na região, como o aumento da temperatura, secas, precipitação intensa e riscos de incêndios florestais. Propõe:

  • Estratégias de adaptação climática,

  • Promoção das energias renováveis,

  • Desenvolvimento de infraestruturas verdes urbanas,

  • Geração de conhecimento e prevenção de riscos climáticos.

Alineado com os Desafios 11 (alterações climáticas) e 12 (emissões e eficiência energética).


5. Cultura e Património

Tem como foco:

  • A conservação, reabilitação e valorização do rico património histórico-cultural do Baixo Guadiana,

  • Criação de rotas patrimoniais e culturais,

  • Promoção do património imaterial (artesanato, festas, música, dança, gastronomia), incluindo iniciativas como a Rota do Contrabando e o respetivo festival,

  • Promoção de encontros transfronteiriços.

Contribui para o Desafio 10 (património e cultura).


6. Qualidade de vida e cooperação entre cidadãos e instituições

Pretende:

  • Melhorar a acessibilidade transfronteiriça (rede viária, transporte público, mobilidade suave),

  • Reforçar a capacidade institucional e promover o multilinguismo,

  • Fomentar a cooperação em serviços sociais, com atenção a grupos vulneráveis, incluindo migração sazonal.

Apoia-se em estruturas existentes como a Eurocidade do Guadiana (Ayamonte, Castro Marim e Vila Real de Santo António) e está alinhado com os Desafios 4 (ensino bilingue), 16 (infraestruturas de transporte), 18 (qualidade de vida e serviços sociais) e 20 (governação transfronteiriça).